segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Do impresso ao digital: A jornada da Newsweek e o futuro da comunicação



A última edição impressa da Newsweek, publicada dia 31 de dezembro, trouxe consigo muito mais do que o fim analógico de uma das revistas jornalísticas mais lidas no mundo, mas também reascendeu o debate sobre o fim do jornalismo impresso de modo geral. 




NO MAPA

                Conheci a Newsweek no meu cursinho de inglês, paradinha lá na prateleira com as pontas dobradas de tanto ser folheada. As capas sempre afrontadoras e o jornalismo dinâmico são as marcas da revista, que chegou a ficar na frente da poderosa Times algumas vezes no ranking de vendas nos EUA. A revista semanal nasceu em fevereiro 1993 e teve sua última edição impressa em dezembro de 2012, fato já anunciado desde outubro do ano passado. 
                Mas a Newsweek não acabou, ela migrou para uma forma totalmente digital ( a ser assinada pelo mesmo preço da revista na banca $4,99 ou $24,99 ao ano) e não é a única! O famigerado New York Times, em 2010, admitiu que pretende deixar o papel (expectativas para que isso ocorra até 2015). Ambos editores, Tina Brown pela Newsweek e Sulzberger pelo New York Times, afirmam que é preciso correr riscos. Mas que riscos são esses e por que é preciso corre-los?


FIM DO IMPRESSO

                Todo mundo sabe que os jornais e revistas vivem de anuncio, e, logicamente, se esses anúncios estão sendo veiculados em outros meios fica inviável manter o papel impresso. A crise global em 2009 fez muitas empresas começarem a investir em anúncios com maior potencial dispersivo e mais acessíveis em termos de público e preço: as mídias digitais. No Brasil, segundo o IAB, a internet participa com 13,7% e a televisão com 57% dos anuncios e publicidade. A previsão é que para o fim de 2013 esse número suba para 39% de investimentos em anúncios virtuais. O motivo para isso é bem simples: a quantidade de internautas cresceu, o Brasil já é segundo lugar no ranking de usuários do facebook (atrás apenas dos EUA) e sua população está dentre as que mais acessam a internet no mundo. Sendo que na Grã Bretanha esses gastos com publicidade online já ultrapassam outros meios desde 2009 e chegam a crescer a 4% ao ano.
                Apesar de ter passado por uma abrupta reformulação (que incluiu a união com o site Daily Beast) entre 2007 e 2009, a Newsweek teve uma constante queda de 38% nas vendas, antes disso, em 2005, a revista chegou a perder $40milhões entre anunciantes e vendas e nos últimos anos de vida analógica chegou a perder 80% de sua receita publicitária, grande parte dela voltada para anúncios online.                

CONCORRÊNCIA DESLEAL?

                No mundo do jornalismo, onde a notícia e sua importância são moedas de ouro, uma revista semanal não consegue concorrer com um website que publica atualizações 24Hs. Jornais virtuais são mais acessíveis e podem ser editados com facilidade. Sem falar que é possível uma interação que não existe nos jornais, tanto do público com o veículo como do público entre si. Fóruns, classificação dos usuários por interesse ( melhor estilo 'mais pedidas'), programas de busca que facilitam não só a pesquisa como também o acesso. É tudo mais automático e personalizado. Isso chama público, público chama anunciante, anunciante chama dinheiro.
                Enquanto uns resistiam ainda ao digital por causa do seu tamanho enraizado por um cabo em casa, as revoluções tecnológicas dos últimos cinco anos - e muito também por causa da queda nos preços - trouxeram cada vez mais um digital portátil. Enquanto em 2011 se comprava mais PCs do que tablets, de acordo com a pesquisa realizada no fim de 2012 pela IDC, as vendas de tablets escalaram de tal forma a fazer com que o Brasil ocupasse o 10º lugar no ranking mundial de vendas. Ou seja, mais tecnologia portátil, mais acesso à informação 24H e em qualquer lugar, que necessita ser atualizada. Coisa que o impresso não pode fazer. 

READEQUAÇÃO DOS JORNAIS E REVISTAS

                Na Sala de Justiça, alguns entusiastas ainda defendem a permanência do papel, afirmando que 'o digital e o papel irão coexistir'. É o caso do sociólogo e consultor da Newspaper Association of America, Leo Bogart "A visão pode captar uma grande quantidade de informações num rápido olhar, sejam elas relevantes ou não" comenta, descrevendo o jornal como prático e confortável. Leo argumenta que as páginas da web possuem um uni-direcionamento de conteúdo, enquanto as folhas largas do jornal permitem uma visualização dinâmica de tudo que é ofertado. 
                Mas o fato é simples e concreto: Quer queiram quer não, os jornal e revistas vão precisar utilizar-se do digital para competir com outros meios mais rápidos. Só que isso não significa necessariamente o fim do impresso. Em pesquisa realizada por Donica Mensing, 1/3 dos jornalistas entrevistados afirmou que o jornal online aumentou o interesse pelo jornal de papel; confirmando, talvez, a teoria de coexistência de Leo Bogart. 
                Não é só isso, também é preciso pensar em uma reestrutura de conteúdo. Revistas como a Newsweek já vinham passando por uma reestrutura não só nos seus meios, mas também em seu conteúdo. Se existe atualização 24H a notícia fica defasada já de uma semana para a outra; por isso a revista semanal - característica também adotada pela Times - começou a adotar um tom mais argumentativo em suas reportagens. A questão é: o usuário já sabe da notícia, agora ele precisa saber o contexto dela e opiniões de profissionais do assunto. 

E O FUTURO?

                Vamos precisar esperar para ver. Enquanto a Newsweek tenta remar contra a maré de estatísticas negativas, vê no Amazon uma luz no fim do túnel. O site, desde 2011, vende mais Ebooks do que livros. Mesmo assim temos o exemplo, mais perto da revista, do site News Corp. Lançado em 2012, o site não durou nem um ano, encerrando suas atividades em 15 de Dezembro; ratificando o fato de publicações digitais que exigem inscrição paga -como está sendo o caso da Newsweek - não tem dado certo no meio digital. Isso quer dizer que a empreitada não vai dar certo? Não. Outros sites, como o do New York Times adotaram uma medida simples e eficaz: uma parte do conteúdo gratuita e outra paga. Uma degustação, por assim dizer. E vem dando certo!
                Tina Brown, editora da revista, afirma que a ausência de convencionalidade da Newsweek vai ser o diferencial e ainda alfineta os concorrentes "Newsweek não é uma revista convencional. Estamos abraçando o meio digital e nossos concorrentes deveriam fazer o mesmo". 


                Muitos pesquisadores afirmam que o próximo século será tudo digitalizado. Tirando os livros do balaio, não consigo concordar mais. E ainda adiciono: se levarmos em consideração as novas tecnologias a ser criadas e popularizadas, principalmente o mobile (que será, escreva aí, o grande veículo de marketing dos próximos anos) que vem ganhando espaço também pelo seu preço e características intermidiáticas, vamos não só estar completamente interconectados como seremos também produtores de notícia. 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Fotografias


  • Divulgação

Referências/ Leia Mais