quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Artista do mês: Inácio Eugênio

     Quem vê o estilo underground de Inácio nem suspeita a paleta colorida entre ele e o papel. Pernambucano da gema, Inácio Eugênio chegou à Paraíba há seis anos e hoje coleciona uma série de desenhos, designs e logotipos em seu portfólio. Seu traço encantador é resultado não só de um profundo estudo da área, mas também de uma entrega pessoal à arte, 'atirando' as ideias no papel da forma como elas vêm.  "Quando eu estou ilustrando, eu não penso muito, eu apenas vou me expressando, desenhando, estudando, vomitando as ideias realmente" conta, em entrevista para o nosso blog.
A afinidade do ilustrador e designer, atualmente cursando Design Gráfico na Faculdade IDEZ, com as cores e a arte vem desde criança e não se perdeu ou diminuiu durante o percurso até a fase adulta. Sua inspiração principal passa por Magritte e Dali até a busca por um estilo próprio misturado com o imaginário popular interiorano e street art. A mistura de influências e o toque de estilo original traz a tona imagens fortes e contestadoras. Esse lado mais inusitado do artista é o que leva a página Estrangeiro Caboclo , uma animada e inteligentíssima sátira com os 'gringos' e os chavões pelos quais ficaram conhecidos.

"Desde pequeno, eu sempre fiz meus trabalhos com lápis e papel, me sujando de tinta, e ainda faço hoje em dia, por que assim é a forma que eu me sinto bem fazendo, gosto de sentir a tinta, gosto de melar as coisas, bagunçar os lápis em cima da mesa, experimentar materiais novos e novas plataformas."





Confere um pouco da nossa conversa com ele.

AISTHÉSIS: O teu trabalho atual te dá uma liberdade artística relativa, visto que no teu currículo consta não só ilustrações como logos e murais. Com o que você mais gosta de trabalhar?


INÁCIO: Na agência que eu trabalho tenho muita liberdade para ilustrar. Isso tem me ajudado muito, por que não fico preso a nenhuma regra ou gosto de outros. Crio minhas ilustrações no meu estilo, mas sempre guiado pelo briefing. As vezes essa liberdade é ruim, no meio de tantas possibilidades, as vezes é difícil escolher o melhor caminho, por isso as vezes gosto de algumas regrinhas e padrões. E claro que eu gosto de trabalhar muito mais com ilustração, é algo que eu tenho muito mais afinidade, mas no branding eu também descobri o grande universo que existe dentro dele, apesar das regras, o branding e a publicidade dão espaço para as criações extravasantes, grandes, que, com o conhecimento em desenho e artes, só tem ajudado a aumentar o meu aprendizado dentro dessa área.


A: Como se dá o teu processo criativo?
I: O processo criativo para os meus projetos é bem pensado. Eu não faço apenas sentar em uma cadeira, abrir o caderno e esperar a ideia brotar em cima da folha. Antes de tudo eu faço um brainstorming para recolher todas as informações possíveis que sejam uteis, e depois faço uma enorme pesquisa de referências visuais. Aliás, essa a minha parte favorita. Ver as ideias dos caras grandes do design, da ilustração, e ficar com uma raiva boa quando vejo aqueles trabalhos incríveis desde a ideia quanto a execução.
Não creio que um profissional estava sentado na varanda de casa tomando Toddynho e teve um “espirro criativo”. Com certeza teve todo um projeto enorme de brainstorming, coleta de referencias, testes de aplicação, testes de público. Apesar de que, uma boa ideia não tem hora e nem local para chegar. Várias ideias eu já tive na aula, no shopping, então rabisco em qualquer lugar e ate no celular mesmo, e vou para casa trabalhar essa ideia. E também, acredito que ótimas ideias provem de um grande conhecimento que você traz, de uma bagagem cultural própria, que juntando com um pouco de relaxamento, as ideias chegam.
A: Dado mercado atual brasileiro e nordestino para arte em si (não só o trabalho como designer) quais são as suas aspirações?

I: O mercado regional, em relação a design, ainda não é tão desenvolvido, antes de entrar na agência, meu chefe ainda era meu professor (e ainda é meu professor na agência) falava o quanto era difícil vender design na Paraíba, que os clientes não entendiam que design não era um gasto e sim era um investimento. Depois, realmente vi o quão difícil é vender design, os clientes pagam mal, não entendem que tudo tem um projeto enorme por trás, mas, aos poucos, está amadurecendo. Já começamos a ver algumas pessoas se interessando por projetos maiores, já trazendo ideias legais, pensando na frente. Já estamos aos poucos deixando de ser o menino do computador para sermos profissionais do design, mesmo assim, como diz ele mesmo, temos que matar um leão por dia. Em relação ao mercado de artes, creio que amadurecei muito nos últimos anos, já vemos mais galerias com exposições, vemos um espaço maior para os artistas, quem vem sido valorizados. Meu pai fala que nos anos 80, expor em João Pessoa era quase impossível, existia um “grupo fechado” e se você não fizesse parte dele não tinha espaço aqui. Mas hoje já vejo que existe uma valorização maior, desde monetariamente, como profissionalmente.

A: Como surgiu a ideia da página estrangeiro caboclo e como é o seu funcionamento?



I: O Estrangeiro caboclo foi um trabalho acadêmico que foi realizado em grupo, que foi a ideia proposta por mim e um amigo meu. Resolvemos pegar frases que ninguém tinha usado e apresentar elas com uma proposta visual diferente. As imagens quem faz sou eu, todo o padrão visual que eu criei e propus para o grupo, foi aprovado e fui fazendo, e acabou dando certo. Já as frases, foi algo mais coletivo, cada um ia pensando em uma frase e íamos tentando , de certa forma, traduzir ela para a linguagem popular, com palavras, jargões e ditados da nossa terra. E foi uma coisa que deu tão certo, que eu resolvi não parar a pagina e continuar mantendo por conta própria, pensando nas frases e produzindo as imagens, e tenho até algumas ideias de partir para outras plataformas, com camisas, cadernos, canecas, ou até utensílios mais nordestinos.

Confere o Trabalho de Inácio na internet: