quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

48 fps de Hobbit

O Hobbit, mais nova adaptação dos livros de Tolkien para o cinema, estreou nas telonas brasileiras no começo de Dezembro e, desde então, anda causando um bafafá em torno dos misteriosos 48 fps e no que isso é diferente de um filme normal. Antes de mais nada é preciso dizer que a maioria dos cinemas, como o daqui da Paraíba, não comportam esta tecnologia  e por isso é bem possível que você não tenha a oportunidade de entrar na onda.

FPS (do inglês, frames per second) consiste simplesmente na frequência de quadros (frames) por segundo.  Quando se pausa um filme para ir ao banheiro o que nós vemos ali parado é um frame (um quadro do filme), a junção desses frames que promove a ilusão do movimento no cinema. Para entender isso basta lembrar de quando nós desenhamos várias vezes o mesmo personagem nas páginas de um bloco de notas e passamos as páginas com rapidez, temos a ilusão que esse personagem se mexe. Cada folha desenhada no bloco de notas seria um quadro ou um frame. Isso se deve a uma característica do olho humano chamada persistência retiniana. No audiovisual se utiliza o fps como unidade de medida, constatando o número de imagens geradas por uma unidade de tempo (nesse caso, segundos) - O Frame rate.
 Isso significa que o filme, o Hobbit, é mais rápido que os outros? Sim e não. Como a quantidade de quadros por segundo é dobrada, a informação que o cérebro humano recebe a cerca da cena também é dobrada, sendo assim podemos perceber mais detalhes, mais luminosidade e mais - veja só - movimento!  Pense comigo, se eu tenho uma quantidade maior de quadros (48, no caso o dobro do padrão 24 fps) pela mesma quantidade de tempo (1s) no final terei mais quadros em relação ao tempo total (digamos, 3h de filme = 3x60s = 180sx48quadros = 8640quadros | p/ as mesmas 3h de filme x 24 quadros = 180x24quadros = 4320 quadros). Assim, a movimentação dos personagens se assemelha mais com a velocidade da vida real, mais rápida do que o 24 fps, mas sem alterar a duração do filme. 

Então, qual é a diferença entre uma película filmada em 24fps e 48fps?

O fps mais utilizado para TV (exceto nos EUA, que o padrão é 30 fps), games e filmes, é 24 quadros por segundo. Por ter mais quadros do que o normal 24 fps - essa é a crítica mais proliferada sobre a versão 48 fps de O Hobbit - 'apertados' dentro do mesmo segundo que antes só cabiam metade dos quadros, os personagens aparentam se mexer mais rápido. Algumas pessoas, inclusive, reclamaram de tontura e náuseas por conta da demasiada claridade nos movimentos e hiper detalhamento das cenas. Em 48fps os movimentos, cenas de ação e detalhamento das cenas - muitos apelidam de hiper-realismo -  (justamente por ter mais quadros apertados  no mesmo segundo) é muito maior, resolvendo, inclusive, o problema do motion blur que o 24fps trazia consigo. 

Como o nosso cérebro entende os FPS?
James Kerwin, cientista norte-americano, explica “Estudos parecem mostrar que a maioria dos humanos vê em torno de 66 fps —  é assim que nós percebemos a realidade através de nossos olhos, e de nosso cérebro. Então você pensaria que 48 frames por segundo é o suficientemente abaixo disto  — isto pareceria muito diferente da realidade. Mas o que as pessoas não estão levando em consideração é que, apesar de nós vermos 66 frames por segundo, neurocientistas e pesquisadores da consciência humana estão começando a realizar que nós só vemos 'conscientemente' 40 quadros por segundo. Em outras palavras: nosso cérebro assimila 66 quadros por segundo, mas nossa consciência só absorve 40 deles." (do site movielive.com acesso 27/12/2012 Tradução livre)
 Muitos especialistas estão afirmando que, por sua incrível semelhança com a realidade, os filmes com 48fps (ou HFR - high frame rate) serão rejeitados pelo público. James Kerwin ainda afirma que a psiquê humana passa a rejeitar o que vê a partir do momento que a 'fantasia' é quebrada. Enquanto isso, os entusiastas cinematográficos (também na lista James Cameron e Douglas Trumbull) afirmam que o novo formato chegou para ficar. "Para mim a fantasia deve ser o mais real possível," comenta Jackson, em uma entrevista recente. "Eu não compro a noção de porque é fantasia não deve ser real. Eu acho que você deve acreditar no mundo que você vai entrar e para isso os detalhes são muito importantes". (tradução livre)

O que muita gente não sabe é que na verdade Douglas Trumbull já experimentou com tecnologia maior do que a tradicional 24fps, lá no fim dos anos 80, no famoso 2001: Um Odisseia do Espaço; utilizando 60 quadros por segundo num filme de 70mm. Daí surgiu a inspiração para Peter Jackson, ainda um adolescente. O que Trumbull chamou de "hyper cinema" e seu sonho de conseguir fazer um filme que conseguisse um movimento equivalente ao da realidade foi continuado pelos diretores, cinegrafistas e outros que sonhavam com uma nova forma de ver o mundo.
“Eu conheci Doug Trumbull há anos e me acostumei com seu equipamento de alta frequência de frames ainda quando era analógico, filmes de 65mm filmados e projetados a 60 quadros por segundo. É engraçado perceber que todos esses anos depois nosso trabalho finalmente está dando frutos. Como tantas outras coisas que Doug Trumbull fez ao longo dos anos, ele era só um tanto a frente de seu tempo e a indústria e a tecnologia não estavam lá para que o formato fosse viável. Então aqui estamos nós, quantos anos depois?” disse Erik Nash, supervisor de efeitos visuais na Digital Domain, em Los Angeles ( no site factscocreate.com acessado dia  217/12/2012 Tradução livre)
Como o 48fps pode melhorar o 3D
Muitos consideram o 3D como uma experiência falha na história do cinema. O que as pessoas ignoram e que eu não vou falar aqui porque não é o tópico do assunto é que o 3D é muito mais do que coisas voando da tela. Um frame rate de 48 quadros por segundo pode melhorar o ruído e o ofuscamento que o 24fps gera num 3D, conseguindo atingir novos níveis de realismo na tela. 
Mas essa tecnologia é viável ou não?
A resposta imediata é: não. Só foi possível gravar O hobbit em 48fps porque o estúdio responsável pelo filme é o mesmo comandado por Jackson "É o dobro do trabalho de renderizar um filme de 24 fps" comentou o diretor, em entrevista. "por isso é o dobro do custo. Só conseguimos gravar o filme todo em 48fps por causa da Weta Digital". Não o bastante, tudo indica que os filmes não poderão ser vistos em HFR (high frame rate) fora das telonas. Desconsiderando a possibilidade da tecnologia não poder ser passada para DVDs ou mesmo de TVs que não suportam esse tipo de resolução, é sabido que os cabos HDMI não suportam muito mais informação do que existe num filme 3D a 24 fps. Sendo assim seria impossível transferir o enorme montante de informação gerado por um filme de 48 fps.
Se o 48 FPS chegou para ficar, ou não, isso só o tempo vai dizer. Desta forma, nós devemos encarar isso como uma nova opção - não necessariamente é preciso usá-la - para o cinema. É mais um avanço para a liberdade criativa de cada um. 

Para quem quiser ter uma experiencia mais 'palpável' a gente indica esse site:
Mude as várias possibilidades e entenda melhor como funciona o Frame Rate. Quem quiser saber mais sobre o assunto e entende uma ou outra coisa de inglês não deixe de ler os textos de MovieLive e Fast CoCreate (linkados no final desta postagem), ainda também o texto do Cinema em Cena!



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