Somos então levados a um
flashback pelo senhor falido, que conta-nos como saiu de sua pacata família
típica do interior para, muito desacreditado pela própria, tornar-se famoso.
Comovido pelo Lorax, pelo fracasso de sua invenção ‘faz tudo’ e pelos animais
da floresta com quem fez amizade, o rapaz promete não cortar mais nenhuma
árvore. No entanto, quando estava aponto de desistir de sua invenção ela cai nas
mãos de um cidadão que vê puro brilhantismo. De repente existe uma
necessidade enorme pelo ‘faz tudo’. Finalmente tomado pela ganância e
incentivado pela família, o rapaz põe abaixo todas as árvores do local e
termina indo a falência por conta disso. No dia em que a última árvore caí,
Lorax manda os animais da floresta embora e some ele mesmo, deixando uma
palavra escrita na pedra ‘Unless’ (‘a menos que’ em português). Emergidos
repentinamente de um momento emocionante do flashback nos damos de cara com o
velho escondido e o menino intrigado e tiramos nossas próprias e bem óbvias
conclusões: A menos que alguém lute por uma mudança as coisas irão continuar do
mesmo jeito. Plano detalhe no rosto do velho “E Esse alguém é você, Ted” berra
ele, do alto de seu casulo.
Esse alguém, claro, somos nós
mesmos. Nós podemos fazer a diferença, é essa a moral bem transparente do
filme, como todo bom fruto de Dr. Seuss.
O velho entrega a Ted a última semente e diz que ele saberá o que fazer.
Mas Ted precisa ainda remar contra a maré. Os cidadãos alienados tomam o lado
de O-hare, que domina a cidade com sua empresa de ar fresco. E se preparam pra
linchar o pequeno, sua paixonite e sua avó, de forma a destruir a última
semente. Semente esta que brota quando Ted enfrenta pela primeira vez O-Hare,
ainda na sua casa, e quando a sua avó acredita nele cresce uma folhinha e
quando a cidade finalmente toma seu lado brota do topo fofo avermelhado das
árvores típicas de Seuss, e então uma muda nasce.
Muitos consideram a luta de Ted
contra O-Hare e toda a moral do filme/livro como um ato contra o desmatamento e
a importância da preservação ambiental. Inclusive, alguns estudiosos compararam
a situação na cidade onde passa o filme com algumas cidades reais, dominadas
com companhias reais. A proteção do meio ambiente, claro, é todo o panorama do
filme, mas se analisarmos os pormenores das cenas e o comportamento das
personagens é possível fazermos outra leitura.
A cidade, antes apenas uma vila, foi criada pela prosperidade da grande empresa do velho, inclusive foi planejada pelo velho. A invenção dele criou a necessidade (que tão rápido quanto chegou foi embora) pelo ‘faz tudo’ e as pessoas foram levadas a comprar algo que não fez diferença em suas vidas. Capitalismo só por capitalismo. Quando todas as árvores caíram, gerando a falência da empresa, o ar ficou irrespirável. O-hare se aproveitou da situação e fundou sua própria empresa, criando uma nova necessidade para a população em decorrência de algo que eles não precisavam em primeiro lugar. A cidade então foi erguida com um muro altíssimo de metal e várias câmeras que vigiavam a população e um formato novo de vender o mesmo ‘ar puro’ (latinha, butijão, árvores falsas, etc), com um slogan – bem conhecido pelos brasileiros, aliás – insinuando que a vida é bela na melhor cidade do mundo. Todos estavam cegos com o que acontecia no mundo exterior, ninguém nunca saía da ‘cidade perfeita’.
A cidade, antes apenas uma vila, foi criada pela prosperidade da grande empresa do velho, inclusive foi planejada pelo velho. A invenção dele criou a necessidade (que tão rápido quanto chegou foi embora) pelo ‘faz tudo’ e as pessoas foram levadas a comprar algo que não fez diferença em suas vidas. Capitalismo só por capitalismo. Quando todas as árvores caíram, gerando a falência da empresa, o ar ficou irrespirável. O-hare se aproveitou da situação e fundou sua própria empresa, criando uma nova necessidade para a população em decorrência de algo que eles não precisavam em primeiro lugar. A cidade então foi erguida com um muro altíssimo de metal e várias câmeras que vigiavam a população e um formato novo de vender o mesmo ‘ar puro’ (latinha, butijão, árvores falsas, etc), com um slogan – bem conhecido pelos brasileiros, aliás – insinuando que a vida é bela na melhor cidade do mundo. Todos estavam cegos com o que acontecia no mundo exterior, ninguém nunca saía da ‘cidade perfeita’.
Não estamos todos nós em cidades
com muros altíssimos, vigiadas por uma câmera a cada esquina, com a constante
propaganda de que esta é o melhor lugar pra se viver? Não temos todos nós uma
O-Hare mandando nos nossos meios de informação a nos convencer de que isso ou
aquilo é o certo?
A menos que alguém se levante e lute para mudar a cidade nunca haverá
árvores e O-Hare sempre vai dominar a sociedade cega. Precisava que Ted tomasse
a iniciativa e persistisse para que conseguisse plantar a semente da mudança.
Por trás da superfície gozada de um pré-adolescente apaixonado por uma menina
mais velha encontra-se alguém bem comum, alguém que poderia ser eu ou você (se
adicionássemos uma avó com superdisposição a esportes radicais). Nós somos Ted.
Nós somos o velho falido que, depois de destruir tudo, vê-se arrependido e sem
nada nas mãos. Nós somos a população de OhareCity alienada achando que tudo
está bem. A menos que nós mudemos algo
nada nunca vai mudar.
Assita o trailer: